domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Moça Tecelã (Interpretação II)

A toda-poderosa Mulher administra sabiamente o Mundo, manejando o seu tear. Mas, como um dos limites do poder é a solidão, cria (tece) ela um companheiro.

Não correspondendo este aos seus justos anseios, a jovem o descria, destecendo-o --- restabelecendo assim, de forma natural, o equilíbrio das coisas.

As estações do ano se reajustam, as emoções se consolam, a justiça se faz: desapareceu, pelas suas mágicas e decididas mãos, o marido egoísta, insensível e cruel.

E tudo operado de uma maneira simples, breve, eficiente, objetiva, silenciosa: bastou descobrir-se iludida e ludibriada por um homem que só visava a lucros e bens materiais, e nunca a uma felicidade a dois, para manusear inversamente o tear, desfazendo castelo, criados, tesouros e o próprio esposo.

Note-se o seu senso de responsabilidade, de preservação cósmica: nenhuma atitude de raiva momentânea ou ódio continuado ou vingança generalizante: zeladora da Natureza, ela pára no justo momento em que desteceu o marido, não desconstruindo nada além.

Guardiã consciente dos segredos da Vida, fá-los funcionar de novo: neve, luz, noite, aurora, plantas e seres, tudo ela rege, regiamente. Projeta-se aí, inteira, a teoria do eterno retorno. (1)

Tolice dizermos coisas como:
"Trabalha exaustivamente a linguagem...",
"porque a delicadeza das expressões..."
"porque isso, porque aquilo..."

e outras bobagens afins.

Por quê? Por óbvio. A palavra escrita, matéria-prima da Literatura, precisa passar de prima a irmã, a mãe, ou não se realiza plenamente --- e, por conseguinte, encanta menos. Ou nem encanta. (Disso todo mundo sabe.)

Ora, trabalhar a linguagem é, na obra colasantiana, fiscalizar erros gramaticais, incoerências vazias (que as há lindas também), selecionar termos e expressões até torná-los insubstituíveis, num exorcismo sobrenatural. Eis aí a bênção da palavra certa, exata, única.

O prazer estético se casa, então, com essas experiências de vida/domínio estilístico/perfeição técnica do gênero textual escolhido (no caso, o conto). E desse casamento nasce a nossa admiração pelo que lemos e relemos e trelemos.

Também nesse conto, o maravilhoso não pede licença nem alinha explicações: a garota já surge em profícua atividade; e, após o marido acidente-de-trabalho, pedra-ruim-no-caminho, prossegue tecendo --- concedendo cores, vida e harmonia ao Universo.



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1) Permitam-nos uma digressão:
Esse restabelecimento da ordem original ocorrerá, sim, só que próximo ao Fim dos Tempos, quando não mais existirmos... Tenhamos fé nesse dia! Maldito seja o Homem!

5 comentários:

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